Soitenses Ilustres
O Capitão Tolda
Ao longo da história, o Soito teve homens de valor, que não deixavam por mãos alheias os pergaminhos de que se julgavam dignos e se comportaram como heróis; um deles foi o Capitão Tolda, que tido por alguns como um mito, foi um personagem que deixou marcas no tempo e que engrandeceu o nome do Soito nessa época pós Restauração quando algumas aldeias eram saqueadas e incendiadas e onde tanto sangue correu do lado de cá e de lá da fronteira.
Escreveu o Padre Hipólito Tavares em Memórias Paroquiais do Soito, com data de 29 de Maio de 1758; De esta terra floreceo hum homem por alcunha o Tolda, Capitam de cavalos, andou nas guerras que teve o Senhor Dom Pedro com Espanha, foi homem de grandes forças, fez grandes proezas com as armas, ahinda se conserva nesta freguesia a trombeta da sua Companhia com grande estimaçam.
O Padre Francisco Vaz adjectiva o Capitão Tolda, de Nun’Álvares do Castelo de Alfaiates, tendo em conta, certamente, os seus feitos em defesa daquele Castelo e das gentes da Raia.
De Memorias Paroquiais de Alfaiates, datadas de 2 de Junho, também de 1758 e escritas pelo Reytor António Carvalho Baptista, extraímos o seguinte texto:
“Floreceo no mesmo tempo desta Praça, o valoroso Capitão Tolda, do lugar do Souto, distante desta vila uma légua, temido raio de Marte, cujas obras são dignas de louvor, porque ficou vitorioso de hum choque que teve com o Duque de Luna, a quem tirou o cavalo ricamente ajaezado, com huma cela cuberta de ouro, que se conserva ainda, e trouxera cativo a esta Coroa seo troço de cavalaria que levava não se afastasse da rota.
Premiou-lhe Sua Majestade os serviços com dar Ábito de Christo e com mil reis de tença a sua filha D. Lionor, que casou com Bernardo da Costa Pacheco, dos Costas de Linhares, capitão de cavalos nesta guerra paçada, e D. Lionor morreo muito velha há poucos anos.”
Sabemos que o Duque de Luna, houvera feito antes alguns actos de vandalismo nas nossas terras: uma vez, vendo que as gentes de Aldeia da Ponte, refugiadas numa Torre, se não rendiam, mandou rebentar a dita Torre do que resultou carnificina, outra, teria ainda tentado queimar o Soito pelo que se depreende das palavras; “queria queimar na Guerra da Aclamação o Duque de Luna ao lugar do Souto, distante desta vila uma légua.”
Ainda bem que o Capitão Tolda saiu vencedor, pois talvez fosse aí, que terminou a guerra da Restauração.
Também em História do Bispado e Cidade de Lamego, M. Gonçalves da Costa diz citando o Diccionário Geographico pag 1603 que o “capitão Tolda foi herói de muitas façanhas nas guerras contra Castela, no reinado de D. Pedro. Quase cem anos mais tarde, ainda se guardava com grande estimação a ” fronheta” da sua campanha.”
Porque D. Pedro foi regente desde 1668 a 1683 e Rei até 1706 e ainda porque a paz entre Portugal e Espanha foi assinada em 1668, teria sido já quase no final da Guerra da Restauração que o Capitão levou a cabo os seus heróicos feitos.
Ainda sobre a filha do capitão Tolda, sem querer avançar com hipóteses, não seria ela a famosa Dona Lionor e seu marido B. da Costa, os beneméritos da Santa Casa da Misericórdia do Soito a quem doaram todos os seus bens? Gostaria de aprofundar essa investigação, mas estou condicionado em muitos dos aspectos requeridos para tal empreitada, que haja quem o faça!
A terminar apetece fazer a pergunta; onde estará a celebre cela coberta de ouro que o capitão apreendera em guerra? E a trombeta da sua Companhia?
sábado, 27 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
A Importância inicial das Misericórdias
A importância inicial das Misericórdias
Desde a Rainha Dona Leonor, a primeira a atribuir à Misericórdia um grau de elevado prestigio, até hoje, é indiscutível a utilidade pública do seu trabalho em prol dos mais fracos, pobres e necessitados.
Os elogios partem de todos os quadrantes; Garcia de Resende na sua Miscelânea diz: “Vimos também ordenar/ ha misericórdia sancta/ cousa tanto de louvar/ que nõ sey quem nõ sespanta/ de mais cedo non se achar:/ socorre a encarcerados/ conforta hos justiçados/ a pobres da de comer/ muitos adjuda a soster/ os mortos sam soterados.”
A Irmandade da Misericórdia, fundada como tal, depressa foi apelidada de Santa Casa pelo povo que dela beneficiava, tão valioso e importante era o serviço por ela prestado àqueles que mais precisavam.
Inicialmente as Confrarias da Misericórdia não possuíam bens próprios e viviam apenas de esmolas régias ou dadivas de particulares, só em 19 de Março de 1561, e atendendo ao prestimoso serviço por elas prestado, D. Catarina, viúva de D. João III, e enquanto regente do Reino, autoriza por alvará régio e pela primeira vez, que as confrarias da Misericórdia possuíssem bens de raiz.
A importância das misericórdias deriva também directamente do Compromisso que as rege na vertente das relações sociais e humanas para sanar conflitos e violências conforme diz o Compromisso:” por que he bem que todos vyvam em paz e em amor e caridade como bôos próximos e fyees christãoos pêra que hy non ajaa odios nem mall querenças o dito provedor e oficiaes saberam pella dita cidade omde hy ha os semelhantes ódios e omizyos e demandas e outras cousas semelhantes e yrã todos jumtos com o capellão da dita comfraria e levaram hûua ymajem de muyta devaçam comsyguo com que façam amtre os irmãos e outras pesoas toda a paz e amizades que poderem e teram hûu lyvro em que se asentarã os perdões que hûus aos outros fyzerem pêra que ao depois se nõ posam arrepender do bem que teverem feito”.
Também Miguel Torga escreveu:” Ah! Quem pudera todos os dias/ Olhar o Mundo assim, repovoado. De Fraternidade, Quente dum sol desabrochado Em cada pétala de realidade!”
(Em A Rainha D. Leonor e as Misericórdias Portuguesas de Ferreira da Silva, Editora Rei dos Livros 1998)
Desde a Rainha Dona Leonor, a primeira a atribuir à Misericórdia um grau de elevado prestigio, até hoje, é indiscutível a utilidade pública do seu trabalho em prol dos mais fracos, pobres e necessitados.
Os elogios partem de todos os quadrantes; Garcia de Resende na sua Miscelânea diz: “Vimos também ordenar/ ha misericórdia sancta/ cousa tanto de louvar/ que nõ sey quem nõ sespanta/ de mais cedo non se achar:/ socorre a encarcerados/ conforta hos justiçados/ a pobres da de comer/ muitos adjuda a soster/ os mortos sam soterados.”
A Irmandade da Misericórdia, fundada como tal, depressa foi apelidada de Santa Casa pelo povo que dela beneficiava, tão valioso e importante era o serviço por ela prestado àqueles que mais precisavam.
Inicialmente as Confrarias da Misericórdia não possuíam bens próprios e viviam apenas de esmolas régias ou dadivas de particulares, só em 19 de Março de 1561, e atendendo ao prestimoso serviço por elas prestado, D. Catarina, viúva de D. João III, e enquanto regente do Reino, autoriza por alvará régio e pela primeira vez, que as confrarias da Misericórdia possuíssem bens de raiz.
A importância das misericórdias deriva também directamente do Compromisso que as rege na vertente das relações sociais e humanas para sanar conflitos e violências conforme diz o Compromisso:” por que he bem que todos vyvam em paz e em amor e caridade como bôos próximos e fyees christãoos pêra que hy non ajaa odios nem mall querenças o dito provedor e oficiaes saberam pella dita cidade omde hy ha os semelhantes ódios e omizyos e demandas e outras cousas semelhantes e yrã todos jumtos com o capellão da dita comfraria e levaram hûua ymajem de muyta devaçam comsyguo com que façam amtre os irmãos e outras pesoas toda a paz e amizades que poderem e teram hûu lyvro em que se asentarã os perdões que hûus aos outros fyzerem pêra que ao depois se nõ posam arrepender do bem que teverem feito”.
Também Miguel Torga escreveu:” Ah! Quem pudera todos os dias/ Olhar o Mundo assim, repovoado. De Fraternidade, Quente dum sol desabrochado Em cada pétala de realidade!”
(Em A Rainha D. Leonor e as Misericórdias Portuguesas de Ferreira da Silva, Editora Rei dos Livros 1998)
Velhos Compromissos (Estatutos)
Curiosidades de velhos Compromissos
Compromisso de 1858
Obrigações da Mesa anual (Capitulo quarto)
“…verificar se se disseram as trinta Missas que devem ser aplicadas por alma de Baltazar da Costa e sua esposa Dona Leonor, pela duação que fizeram de seus bens à Santa Casa.”
Mais adiante, no Capitulo Undécimo diz: “Ordenamos qe daqui em diante se digão não trinta missas como já ficou dito no Capitulo quarto, mas sim cincoenta como em tempos se disserão. Estas aplicadas por alma de Balthazar da Costa e sua Mulher Dona Leonor pela duação qe fizeram de seus bens à Santa Casa. O qe deverá constar por certidão.”
O mesmo Capitulo ordena que “se verifique se foi feita a Função da Visitação de Santa Isabel segundo o costume e a decência devida; se se socorrerão os miseráveis segundo as rendas do ano.”
Capitulo Quinto:
“O Provedor desta Irmandade será sempre uma pessoa de virtude, prudência, authoridade e reputação tal, que os mais irmãos muito facilmente o possâo reconhecer como seu Superior. Deve ter de idade de trinta anos para cima, excepto se for formado em qualquer faculdade, ou que tenha ordens Sacras e terá pelo menos um ano de irmão nesta Santa Casa para que aprenda a obedecer antes de mandar.”
Souto 30 de Julho de 1858
O Provedor: Padre João Carvalho
Todas as folhas deste Compromisso foram rubricadas pelo Administrador do Concelho Cassiano Maximino da Silva Azevedo em 29 de Junho de 1858.
Compromisso de 1914
Capitulo 2º. Artigo 5º. “Pode ser admitido nesta Irmandade todo o indivíduo dum e de outro sexo que for maior ou legalmente emancipado e tenha bom comportamento moral, civil e religioso”. Mas logo a seguir no parágrafo único do mesmo artigo diz: “Também podem ser admitidas como irmãos, as mulheres casadas, e os menores, precisando aquelas de autorização de seus maridos e estes de autorização de seus pais ou tutores, por escrito.”
(Este artigo, em plena Republica, retrocede na concessão de direitos ás mulheres, pois o anterior Compromisso de 1858, no seu Capitulo 1º e 2º apenas refere (das qualidades que devem ter as pessoas que pretende entrar nesta Irmandade) sem discriminar sexos)
Artigo 50º. Parágrafo 2º.: tem texto semelhante ao do capítulo undécimo do anterior compromisso: “Mandar celebrar anualmente 50 missas por alma de Baltazar da Costa e sua mulher D. Leonor, visto que fizeram doação de seus bens a esta Irmandade.”
No artigo 49 podemos ler: “Haverá um arquivo e terá três chaves diferentes as quais serão guardadas pelo Provedor, pelo Secretário e pelo Tesoureiro, só podendo ser aberto com a presença dos três.” (a)
No artigo 8 do capítulo 5 podemos ler: “os irmãos, pagarão na data da admissão a título de jóia, a quantia de 10 centavos” (o equivalente a € 1/20.000)
Souto 12 de Julho de 1914
O Provedor: Narciso Martins Nicolau
Era Administrador do Concelho; António Manuel Garcia da Fonseca, natural do Soito e que mais tarde (meados do século XX) foi Juiz Conselheiro.
(a) Este arquivo, uma pequena arca de madeira de castanho, ainda existe, tem a fechadura tripla mas as chaves desapareceram.
Compromisso de 1858
Obrigações da Mesa anual (Capitulo quarto)
“…verificar se se disseram as trinta Missas que devem ser aplicadas por alma de Baltazar da Costa e sua esposa Dona Leonor, pela duação que fizeram de seus bens à Santa Casa.”
Mais adiante, no Capitulo Undécimo diz: “Ordenamos qe daqui em diante se digão não trinta missas como já ficou dito no Capitulo quarto, mas sim cincoenta como em tempos se disserão. Estas aplicadas por alma de Balthazar da Costa e sua Mulher Dona Leonor pela duação qe fizeram de seus bens à Santa Casa. O qe deverá constar por certidão.”
O mesmo Capitulo ordena que “se verifique se foi feita a Função da Visitação de Santa Isabel segundo o costume e a decência devida; se se socorrerão os miseráveis segundo as rendas do ano.”
Capitulo Quinto:
“O Provedor desta Irmandade será sempre uma pessoa de virtude, prudência, authoridade e reputação tal, que os mais irmãos muito facilmente o possâo reconhecer como seu Superior. Deve ter de idade de trinta anos para cima, excepto se for formado em qualquer faculdade, ou que tenha ordens Sacras e terá pelo menos um ano de irmão nesta Santa Casa para que aprenda a obedecer antes de mandar.”
Souto 30 de Julho de 1858
O Provedor: Padre João Carvalho
Todas as folhas deste Compromisso foram rubricadas pelo Administrador do Concelho Cassiano Maximino da Silva Azevedo em 29 de Junho de 1858.
Compromisso de 1914
Capitulo 2º. Artigo 5º. “Pode ser admitido nesta Irmandade todo o indivíduo dum e de outro sexo que for maior ou legalmente emancipado e tenha bom comportamento moral, civil e religioso”. Mas logo a seguir no parágrafo único do mesmo artigo diz: “Também podem ser admitidas como irmãos, as mulheres casadas, e os menores, precisando aquelas de autorização de seus maridos e estes de autorização de seus pais ou tutores, por escrito.”
(Este artigo, em plena Republica, retrocede na concessão de direitos ás mulheres, pois o anterior Compromisso de 1858, no seu Capitulo 1º e 2º apenas refere (das qualidades que devem ter as pessoas que pretende entrar nesta Irmandade) sem discriminar sexos)
Artigo 50º. Parágrafo 2º.: tem texto semelhante ao do capítulo undécimo do anterior compromisso: “Mandar celebrar anualmente 50 missas por alma de Baltazar da Costa e sua mulher D. Leonor, visto que fizeram doação de seus bens a esta Irmandade.”
No artigo 49 podemos ler: “Haverá um arquivo e terá três chaves diferentes as quais serão guardadas pelo Provedor, pelo Secretário e pelo Tesoureiro, só podendo ser aberto com a presença dos três.” (a)
No artigo 8 do capítulo 5 podemos ler: “os irmãos, pagarão na data da admissão a título de jóia, a quantia de 10 centavos” (o equivalente a € 1/20.000)
Souto 12 de Julho de 1914
O Provedor: Narciso Martins Nicolau
Era Administrador do Concelho; António Manuel Garcia da Fonseca, natural do Soito e que mais tarde (meados do século XX) foi Juiz Conselheiro.
(a) Este arquivo, uma pequena arca de madeira de castanho, ainda existe, tem a fechadura tripla mas as chaves desapareceram.
Doadores e Beneméritos
Doadores e Beneméritos
Sem duvida que existiram muitos durante a longa existência da SCMS, e entre eles é de salientar como já noutro local é dito, Baltazar da Costa e sua esposa Dona Leonor que legaram todos os seus bens á Misericórdia e muito embora não tenhamos documentos que atestem a sua quantidade e valor, o certo é que a Santa Casa, agradecida, e durante mais de dois séculos, mandou celebrar Missas em sua memória, das quais as ultimas de que tenhamos conhecimento documentado datem de Dezembro de 1936: uma, cantada, celebrada pelo Padre Francisco Pereira da Cruz acompanhado por dois concelebrantes e mais 50 pagas ao padre Manuel Joaquim Carvalho Dias no valor de 250$00. Em 22 de Outubro de 1937 ainda constava no orçamento para o ano seguinte a verba de 25$00 destinada a Missas por alma destes dois benfeitores, o que era feito em cumprimento do artigo 50 dos Estatutos, o que face ao menor numero de artigos dos Compromissos encontrados, revela a existência de outros anteriores possivelmente desaparecidos ou destruídos.
Na era moderna da Santa Casa, também se destacam alguns beneméritos ou doadores e aqui deixamos os seus nomes para que constem e a história os não esqueça:
Alberto Fernandes, do Cardeal, com uma oferta de 1.000.000$00 para as obras do Lar e seis televisores.
António Fernandes Oliveira que ofereceu as colchas e os lençóis para as camas do Lar.
Maria Antónia Alves Corceira, doou uma terra centeeira, no valor aproximado de 250.000$00 que vendida em 8/7/1987, satisfez o seu desejo de contribuir para a Santa Casa.
Maria Antunes Costa em 8/12/1987 legou por testamento á Misericórdia, uma casa sita em Alfaiates, com um valor estimativo superior a 200.000$00.
Feliciana Amaral, natural de Alfaiates, em 29/12/1988 legou uma terra de regadio no valor calculado de 200.000$00.
Maria da Natividade, natural de Vale Mourisco: uma casa que foi vendida á Firma Lactibar por 300.000$00, mais um depósito na CGD do Sabugal no valor de 1.200.000$00.
José Ramos Sanches da Silva: legou em documento notarial, os seus bens em Aldeia Velha e um terreno em Alfaiates.
Emilia de Jesus: uma casa no Azevo que foi vendida pela importância de 80.000$00.
Felisbela Pina, da Nave: 300.000$00
Maria Ilda de Oliveira Notório: da Guarda, legou em dinheiro a quantia de 13.350 euros, conforme consta em acta de reunião da Mesa em 20 de Maio de 2002.
Maria Filomena Lavrador Gonçalves: oferta de 2.500 Euros em 2003, 2500 em 20 de Setembro de 2004 e outros 2.500 em 2 de Novembro de 2006.
Sem duvida que existiram muitos durante a longa existência da SCMS, e entre eles é de salientar como já noutro local é dito, Baltazar da Costa e sua esposa Dona Leonor que legaram todos os seus bens á Misericórdia e muito embora não tenhamos documentos que atestem a sua quantidade e valor, o certo é que a Santa Casa, agradecida, e durante mais de dois séculos, mandou celebrar Missas em sua memória, das quais as ultimas de que tenhamos conhecimento documentado datem de Dezembro de 1936: uma, cantada, celebrada pelo Padre Francisco Pereira da Cruz acompanhado por dois concelebrantes e mais 50 pagas ao padre Manuel Joaquim Carvalho Dias no valor de 250$00. Em 22 de Outubro de 1937 ainda constava no orçamento para o ano seguinte a verba de 25$00 destinada a Missas por alma destes dois benfeitores, o que era feito em cumprimento do artigo 50 dos Estatutos, o que face ao menor numero de artigos dos Compromissos encontrados, revela a existência de outros anteriores possivelmente desaparecidos ou destruídos.
Na era moderna da Santa Casa, também se destacam alguns beneméritos ou doadores e aqui deixamos os seus nomes para que constem e a história os não esqueça:
Alberto Fernandes, do Cardeal, com uma oferta de 1.000.000$00 para as obras do Lar e seis televisores.
António Fernandes Oliveira que ofereceu as colchas e os lençóis para as camas do Lar.
Maria Antónia Alves Corceira, doou uma terra centeeira, no valor aproximado de 250.000$00 que vendida em 8/7/1987, satisfez o seu desejo de contribuir para a Santa Casa.
Maria Antunes Costa em 8/12/1987 legou por testamento á Misericórdia, uma casa sita em Alfaiates, com um valor estimativo superior a 200.000$00.
Feliciana Amaral, natural de Alfaiates, em 29/12/1988 legou uma terra de regadio no valor calculado de 200.000$00.
Maria da Natividade, natural de Vale Mourisco: uma casa que foi vendida á Firma Lactibar por 300.000$00, mais um depósito na CGD do Sabugal no valor de 1.200.000$00.
José Ramos Sanches da Silva: legou em documento notarial, os seus bens em Aldeia Velha e um terreno em Alfaiates.
Emilia de Jesus: uma casa no Azevo que foi vendida pela importância de 80.000$00.
Felisbela Pina, da Nave: 300.000$00
Maria Ilda de Oliveira Notório: da Guarda, legou em dinheiro a quantia de 13.350 euros, conforme consta em acta de reunião da Mesa em 20 de Maio de 2002.
Maria Filomena Lavrador Gonçalves: oferta de 2.500 Euros em 2003, 2500 em 20 de Setembro de 2004 e outros 2.500 em 2 de Novembro de 2006.
Baltazar da Costa e Dona Leonor
“O facto de os actos que realizo perdurarem quando deixo de viver, significa que de algum modo continuo a existir”
“Max Scheler”
D. Leonor e Baltazar da Costa Pacheco: Este casal que viveu na segunda metade do século XVII, princípios do século XVIII, não teve filhos e doou todos os seus bens à Misericórdia do Soito.
Ela, do Soito, filha de Diogo Martins de Amaral (O capitão “Tolda”) e de sua mulher Dona Maria Martins, foi baptizada em 27 de Julho de 1656 e ele, também capitão de cavalaria, “filho de António da Costa Pacheco e de Silia? Craveira, naturais da Vila de Linhares, Bispado de Coimbra”
O casamento foi celebrado em 2 de Agosto de 1680 pelo padre Domingos de Faria, o mesmo que celebrara o seu baptismo mas que nesta data paroquiava a Nave tendo presidido à cerimónia sob licença do cura Domingos Manso.
Tinha D. Leonor 24 anos e “foram testemunhas; António Vaz, Fº. Luís, Domingos Vaz e António Martins, todos deste lugar do Souto”
Referindo-se ao Capitão Tolda, diz o Reytor António Carvalho Baptista nas Memórias Paroquiais de Alfaiates datadas de 1758: Premiou-lhe Sua Majestade os serviços com dar o Abito de Christo e cem mil reis de tença a sua filha dona Leonor, que cazou com Balthazar da Costa Pacheco, dos Costa de Linhares, Capitão de cavalos nesta guerra paçada e Dona Leonor morreo muito velha há poucos annos.
Segundo a crença popular, divulgada entre os mais velhos, Baltazar era Judeu, porém, se atendermos ás inúmeras vezes em que foi padrinho de baptismo, essa tese é difícil de aceitar. (seria Cristão novo?)
O primeiro registo em que aparece como padrinho data de 1686 e o último de 1704.
Há outras histórias, fruto ou não do imaginário popular, que se contam a respeito deste casal, por exemplo: conta-se que ele tinha uma amiga que vivia então numa pequena casa mais ou menos onde hoje existe o número 38 ou 40 da Rua das Flores e que D. Leonor sabendo dos factos e conhecedora da miséria da amante do marido e das carências por que passava, lhe terá mandado entregar lençóis e cobertores novos para a cama, não querendo que o marido se deitasse em cama suja ou velha, este, sabedor da acção da mulher e vencido pela sua bondade não mais voltou aquela casa.
Dizem também que Dona Leonor foi sepultada, a seu pedido, na Igreja Matriz, na coxia, junto ao altar, para que todos lhe passassem por cima.
D. Leonor e sua mãe foram as únicas mulheres do Soito, à época e até tempos bem recentes, a ter direito ao D. que antecede o nome, distinção que não encontramos em qualquer outro registo paroquial e que só era atribuído a pessoas da nobreza e da boa sociedade.
Em reconhecimento, pela doação dos seus bens, a Misericórdia estatuiu nos Compromissos de 1858, 1868 e 1914 “mandar celebrar anualmente cinquenta missas por alma de Baltazar da Costa e sua esposa dona Leonor, pela doação que fizeram de seus bens à Misericórdia.”
A última prova documental de que tal aconteceu, data de Dezembro de 1936 e as missas foram celebradas pelo Padre Manuel Joaquim Carvalho Dias, numa sucessão que se prolongou por mais de 270 anos, já que Baltazar da Costa já havia falecido antes de 1736.
“Max Scheler”
D. Leonor e Baltazar da Costa Pacheco: Este casal que viveu na segunda metade do século XVII, princípios do século XVIII, não teve filhos e doou todos os seus bens à Misericórdia do Soito.
Ela, do Soito, filha de Diogo Martins de Amaral (O capitão “Tolda”) e de sua mulher Dona Maria Martins, foi baptizada em 27 de Julho de 1656 e ele, também capitão de cavalaria, “filho de António da Costa Pacheco e de Silia? Craveira, naturais da Vila de Linhares, Bispado de Coimbra”
O casamento foi celebrado em 2 de Agosto de 1680 pelo padre Domingos de Faria, o mesmo que celebrara o seu baptismo mas que nesta data paroquiava a Nave tendo presidido à cerimónia sob licença do cura Domingos Manso.
Tinha D. Leonor 24 anos e “foram testemunhas; António Vaz, Fº. Luís, Domingos Vaz e António Martins, todos deste lugar do Souto”
Referindo-se ao Capitão Tolda, diz o Reytor António Carvalho Baptista nas Memórias Paroquiais de Alfaiates datadas de 1758: Premiou-lhe Sua Majestade os serviços com dar o Abito de Christo e cem mil reis de tença a sua filha dona Leonor, que cazou com Balthazar da Costa Pacheco, dos Costa de Linhares, Capitão de cavalos nesta guerra paçada e Dona Leonor morreo muito velha há poucos annos.
Segundo a crença popular, divulgada entre os mais velhos, Baltazar era Judeu, porém, se atendermos ás inúmeras vezes em que foi padrinho de baptismo, essa tese é difícil de aceitar. (seria Cristão novo?)
O primeiro registo em que aparece como padrinho data de 1686 e o último de 1704.
Há outras histórias, fruto ou não do imaginário popular, que se contam a respeito deste casal, por exemplo: conta-se que ele tinha uma amiga que vivia então numa pequena casa mais ou menos onde hoje existe o número 38 ou 40 da Rua das Flores e que D. Leonor sabendo dos factos e conhecedora da miséria da amante do marido e das carências por que passava, lhe terá mandado entregar lençóis e cobertores novos para a cama, não querendo que o marido se deitasse em cama suja ou velha, este, sabedor da acção da mulher e vencido pela sua bondade não mais voltou aquela casa.
Dizem também que Dona Leonor foi sepultada, a seu pedido, na Igreja Matriz, na coxia, junto ao altar, para que todos lhe passassem por cima.
D. Leonor e sua mãe foram as únicas mulheres do Soito, à época e até tempos bem recentes, a ter direito ao D. que antecede o nome, distinção que não encontramos em qualquer outro registo paroquial e que só era atribuído a pessoas da nobreza e da boa sociedade.
Em reconhecimento, pela doação dos seus bens, a Misericórdia estatuiu nos Compromissos de 1858, 1868 e 1914 “mandar celebrar anualmente cinquenta missas por alma de Baltazar da Costa e sua esposa dona Leonor, pela doação que fizeram de seus bens à Misericórdia.”
A última prova documental de que tal aconteceu, data de Dezembro de 1936 e as missas foram celebradas pelo Padre Manuel Joaquim Carvalho Dias, numa sucessão que se prolongou por mais de 270 anos, já que Baltazar da Costa já havia falecido antes de 1736.
Capela da Misericórdia

Igreja ou Capela da Misericórdia
Ao longo dos vários escritos a que acedemos, encontramos o designativo Igreja da Misericórdia com que era referida a Sede religiosa da Misericórdia do Soito, outros porém referem simplesmente Capela ou Santa Casa, de qualquer modo, um ou outro termo significa obviamente o mesmo edifício.
Não se sabe a data da construção da primeira Capela que já existia em 1695, sabe-se sim que estava situada junto á entrada do actual cemitério, que a teria envolvido posteriormente aquando da sua construção por volta de 1830, que um altar em madeira artisticamente trabalhada, obviamente não o original, data de 1862 conforme peças existentes, e que, posteriormente, talvez em 1944, foi demolida e construída a actual, do lado nascente, hoje quase ao centro devido a vários acrescentos feitos ao cemitério, um em 1869, outro em 1934 e ainda outro em 1977.
Devido á falta de espaço na Igreja Matriz e em algumas Capelas onde eram sepultados os corpos dos falecidos, foi a Capela da Santa Casa usada para esse fim, conforme confirmam os registos de óbito, também existe documentação que atesta terem sido nela sepultados 198 corpos desde 15 de Setembro de 1824 até 10 de Agosto de 1831 para além de muitos outros, antes e depois dessa data.
Para além de outros que eventualmente ali pudessem ser realizados, sabemos que em 6 de Junho de 1814 foi nela celebrado o casamento de José Alves, natural de Alfaiates, com Luísa Jorge do Soito, sendo padrinho o Capitão-mor Narciso Fernandes Botelho.
Desde a construção da dita capela e até hoje que o toque do seu sino todas as manhãs pelo romper da aurora, vem chamando a atenção dos devotos para a oração pelos defuntos.
Alguns fiéis continuam ainda a manter esta tradição para que se possa transmitir aos vindouros.
Era também pelo toque deste sino que se tomava conhecimento da morte de algum irmão da Misericórdia, hábito este hoje em desuso.
Era ainda ao toque desse sino que se chamava a atenção dos irmãos, no dia da festa de Santa Isabel, “para a eleição da Mesa da Misericórdia e demais empregados”.
Em 2 de Março de 1991 e devido á degradação do edifício, a Mesa Administrativa, sob orientação do Provedor Sr. Manuel Rito, decide fazer importantes obras de reparação: cobertura nova, reboco, pintura e demais benefícios interiores, que foram realizadas de seguida.
Datas importantes na vida do Lar
Datas Importantes na vida do Lar
17 de Junho de 1979: Nasce a ideia do projecto do Lar
5 de Julho de 1982: Data do início das obras.
20 de Setembro de 1982: É colocada oficialmente a primeira pedra do Lar
10 de Janeiro de 1987: O Lar abre as suas portas aos primeiros utentes.
25 de Março de 1987; o Dr. Carlos Andrade, director do Centro Regional da Guarda visita o Lar, com alguns dos seus colaboradores e almoça nas instalações bem como alguns membros da Associação Regional de Solidariedade e Progresso do Alto Zêzere.
Em 31 de Outubro de 1987 foi realizada nas instalações do Lar uma reunião das Misericórdias do Distrito da Guarda presidida pelo Sr. Provedor da Misericórdia da Guarda Dr. Francisco Bigotte
A 13 de Dezembro de 1988 fez visita ás instalações do Lar o Presidente do CRSS da Guarda Dr. Rui Proença Correia Dias.
Em 11/3/1989 dia da inauguração do Lar estiveram presentes, entre outros, o Sr. Ministro Silva Peneda, a Sra. Dra. Marília Raimundo, Governadora Civil do Distrito e o Sr. Dr. José Joaquim Nunes Portas, Presidente da Câmara Municipal do Sabugal.
Na mesma data foi assente a primeira pedra do edifício da Creche e Jardim Infantil.
Em 30 de Agosto de 1993 é aberta a Creche e o Jardim Infantil.
Em 5 de Maio de 1995, o edifício da Creche e Jardim Infantil foi inaugurado pelo Secretário de Estado da Segurança Social Dr. José Cid.
1 de Dezembro de 1996: O Sr. Provedor Manuel Rito apresenta à Mesa a proposta de construção do novo imóvel.
Em 8 de Junho de 1997 o Lar recebeu a visita do Sr. Bispo da Guarda D. António dos Santos.
15 de Outubro de 1998: A Mesa da Misericórdia aprova a adjudicação (construção em grosso) do novo edifício ao Sr. João Rito de Marcos.
A 13 de Julho de 2003 o Lar Nossa Senhora da Conceição recebeu a visita do Sr. Governador Civil da Guarda, do Sr. Presidente do CRSS e dos deputados à Assembleia da Republica Ana Manso e Fernando Lopes acompanhados pelo Presidente da Câmara Municipal do Sabugal e demais individualidades.
No dia 24 de Julho de 2004 foi benzida a nova Capela do Lar pelo Sr. Vigário Geral da Diocese, em representação do Sr. Bispo, e do Capelão da Santa Casa Sr. Padre António Domingos.
Em 26 de Julho de 2004 foi inaugurado o novo edifício do Lar pelo Sr. Ministro Fernando Negrão com a presença dos Srs. Governador Civil, Presidente do CRSS, Vice-presidente da Câmara e outras altas entidades oficiais.
No dia 14 de Junho de 2006 o Lar teve a visita do Sr. Bispo D. Manuel Felícia, que desde há pouco tempo exerce o cargo de Bispo da Diocese da Guarda.
Construção do Lar
Construção do Lar
A ideia que conduziu à construção do Lar nasceu por ocasião da festa do Ano Internacional da Criança, que a nível concelhio foi realizada no Soito em 17 de Junho de 1979 e cujo saldo de 81.000$00, foi o fermento desta grande obra.
Nesse dia, um grupo de cidadãos, já referidos noutro local, cientes da necessidade da existência de uma Instituição que se ocupasse dos mais fracos: idosos e crianças, tomaram sobre si o encargo de levar por diante tal empreendimento, para o que foi necessário revitalizar a Misericórdia local, que vinha sendo administrada como uma simples Irmandade sem qualquer trabalho de âmbito social, talvez porque devido à emigração já não existiam as carências sociais que existiram no passado e ás quais sempre dera a resposta possível.
Passando da ideia aos actos foi encomendado o projecto á Firma Ensaio Lda., representada pelo Eng. António Manuel Garcia da Fonseca, que seria aprovado pela Mesa em 18 de Janeiro de 1981 bem como a forma de pagamento das suas várias fases num total de 60.000$00.
Depois dos inevitáveis atrasos na feitura do projecto e da sua aprovação oficial (25 de Maio de 1982), situações próprias da burocracia, a obra foi iniciada a 5 de Julho de 1982 mas a primeira pedra só foi assente no dia 20 de Setembro demorando a sua construção pouco mais de quatro anos até 31 de Dezembro de 1986, tendo sido construtor o Sr. João Rito de Marcos
O custo total da obra ascendeu ao valor de 53.525.252$10 (escudos) e teve o apoio do Ministro dos Assuntos Sociais Dr. Luís Barbosa e do Centro Regional da Guarda da S.S., na Presidência do Dr. António Fernandes Louro e Dr. Carlos Andrade,
Câmara Municipal do Sabugal enquanto Presidente o nosso conterrâneo Jeremias Amaral Dias, falecido num trágico acidente de viação em 7 de Janeiro de 1988, apoio que foi continuado pelo novo Presidente Dr. Joaquim Portas, com máquinas de remoção de terras, transporte de materiais, uma carrinha para o transporte de utentes e varias verbas para calcetamento, bancos, iluminação, etc.
Fundação Gulbenkian com 1.500.000$00
Alberto Fernandes, do Cardeal, com 1.000.000$00 e alguns televisores.
Povo do Soito, cujo peditório realizado em 19 e 20 de Agosto de 1979 rendeu a importância de 1.862.950$00
O subsídio total concedido pelo CRSS atingiu os 46.652.600$00
O Soito e a Misericórdia

Soito e a sua Misericórdia
A vida da Misericórdia, em tempos idos, confundia-se com a vida da povoação: eram poucos os funerais em que os membros da Irmandade não participassem, já que a grande maioria dos habitantes eram irmãos e tinham, por isso, eles e o seu agregado familiar, direito a acompanhamento com bandeiras e estandartes, bem como a missas em sufrágio da sua alma, conforme obrigavam os compromissos de 1858, 1868 e 1914, que são os mais antigos chegados até nós.
A grande maioria dos pais de família eram irmãos, viviam religiosamente os deveres impostos sob pena de multa que podia ir de “1 Kg. de cera amarela a 2400 reis” conforme fosse o grau da falta verificada.
A missão desta Irmandade não se limitava ao “bem de alma” dos irmãos e familiares, tinha também como obrigação ajudar os mais necessitados o que fazia pagando livros, medicamentos e outros bens ás pessoas mais carentes e cujos valores são referidos nos livros de contas.
Todos os anos, no primeiro domingo de Julho, a Santa Casa fazia a “função” de Santa Isabel, (festa da visitação) que a Misericórdia organizava em cumprimento do expresso nos antigos Compromissos, onde para além do lançamento de foguetes participava regularmente uma banda de musica ou tambores vindos propositadamente para abrilhantar as festas.
Era, Santa Isabel, muito venerada pela Santa Casa, logo, todos os irmãos tinham a obrigação de respeitar e colaborar nos festejos comemorativos do aniversário.
Era também na tarde deste dia e todos os anos, que se procedia à eleição dos membros da Mesa e demais elementos necessários ao desempenho das várias tarefas, como o Irmão andador, o Irmão do mês e os irmãos que deviam levar as bandeiras aquando dos funerais que por força do Compromisso tinham obrigação de acompanhar.
As referências a esta festa deixam de aparecer por volta de 1935, sem que se perceba a razão de tão abrupto final.
A importância da Misericórdia, como Irmandade, decaiu, principalmente a partir do pós-Republica e, durante algumas décadas, a sua missão de “altruísmo” limitava-se a mandar rezar missas pelos irmãos falecidos, descurando a sua principal razão de existir que era o apoio aos mais necessitados: o valor dispendido com o espiritual ultrapassava largamente o que era canalizado para ajuda social.
Alguns anos depois da Revolução do 25 de Abril, esteve em risco de extinção devido à reduzida actividade que desenvolvia, isto apesar do elevado património rústico que possuía mas que estava na posse de algumas famílias desde há mais de dois séculos e que subdividiam pelos herdeiros como se fosse seu.
O rendimento de bens imóveis que em 1869, só de centeio, foi de 268 alqueires desceu em 1932, com cerca de 40 arrendatários, para 73 alqueires de centeio.
Em 1940, dos 41 arrendatários, a Misericórdia não arrecadou mais de 38 alqueires, pois já poucos pagavam as rendas.
Estou certo e já o Compromisso de 1858 se referia a tal situação, que muitos dos terrenos “imprazados desde tempos remotos,” se perderam como património devido à falta de documentos comprovativos da posse.
Em 1881 ainda existia o livro do Tombo onde estavam inscritos todos os bens da Misericórdia, mas desaparecido este, restaram os documentos oficiais que eram poucos e a consciência dos arrendatários, embora alguns, defendendo interesses inconfessáveis mas perfeitamente adivinháveis, não tivessem agido com a transparência desejável e subdividissem os terrenos em parcelas, tantas quantas os filhos, e sem que a Misericórdia fosse tida em conta neste emaranhado de interesses.
Tem sido difícil o acertamento com os arrendatários, já que alguns, apesar de em tempos terem pago a renda, chegaram a dizer que tinham terrenos da Misericórdia mas não diziam onde, e isto não é apenas do passado recente, pois já em 1920 havia arrendatários que pagavam a renda mas não diziam onde eram os prédios o que demonstra bem a sua posição obscura e condenável em relação ao assunto que até hoje nunca foi resolvido e duvido que algum dia o seja.
Há ainda quem, de má vontade ou mesmo má fé e apesar da ausência do pagamento de qualquer renda, continue a inviabilizar qualquer tipo de solução final para um processo que já se vem arrastando há décadas consecutivas o que é bem o espelho da vontade que alguns têm em aclarar, ou manter na penumbra, por conveniência, ainda que não manifesta, uma verdade incómoda.
A verdade é que a Misericórdia de hoje, também não pode provar para além dos documentos que possui e que são poucos, entretanto a verdade pessoal de alguns, acaba por se sobrepor à verdade colectiva de um povo e à memória das gerações que nos antecederam, resultando de tudo isto uma fotografia ao negativo da imagem do homem, que, por interesse pessoal, esconde ou omite os factos.
Fundação da Misericórdia do Soito

Fundação da Misericórdia do Soito
Vários historiadores situam a sua fundação por alturas de fins do século dezanove, o que não passa de um acto de metacronismo puro.
O reconhecido historiador Pinharanda Gomes, em História da Diocese da Guarda pagina 387 diz, citando Origens e Formação das Misericórdias Portuguesas de Fernando da Silva Correia, que a Misericórdia do Soito seria de fundação posterior a 1897.
Não queremos retirar mérito a estes dois grandes historiadores, altamente conceituados, que escreveram certamente baseados nos dados que possuíam, o certo é que a história faz-se todos os dias, nunca está completa, há sempre novas verdades que surgem e que trazem luz a situações até então obscuras.
Os documentos mais antigos existentes no Arquivo Paroquial datam de 1846, e é em 15 de Julho de 1847, que, referentes a 1846/47, Manuel Vaz de Carvalho dá contas a Manuel Martins Furriel, ambos tesoureiros, um que sai e outro que entra em funções, num total de 37.490 e 36.500 reis, respectivamente receita e despesa.
Não podemos situar a fundação da Misericórdia do Soito nessa data, nem determinar outra sob pena de errarmos, é porém verdade que se o Hospital, edifício que sofreu reparações consecutivas a cargo da Misericórdia, o Calvário, os Nichos, a capela da Misericórdia, a antiga, e que existiu muito antes de existir cemitério e porventura outras obras de vulto eram sua propriedade, e se tanto quanto sabemos o Calvário e a capela da Misericórdia já existiam em meados do século XVIII, pois já nesta data o Padre Hipólito Tavares referia que a Misericórdia do Soito tinha capela própria e como renda a quantia de 20.000 reis, enquanto que á do Sabugal, na mesma altura, eram atribuídos 100.000 reis e estava sedeada na Igreja de São Miguel.
Sabemos por consulta nos documentos paroquiais da época, existentes no Arquivo Distrital da Guarda, que os mortos eram sepultados dentro das Igrejas, Capelas e respectivos adros.
Tal como na Igreja Matriz, na capela de Santa Barbara, na Capela de Santo Amaro e na do Espírito Santo, também a Capela, ou Igreja, como varias vezes é referida, da Santa Casa da Misericórdia, acolhia os restos mortais dos Soitenses.
O registo do primeiro enterro nessa capela, de que tenhamos conhecimento, data de 14 de Fevereiro de 1695, o que não quer dizer que os não haja anteriores, porém, devido a um vazio documental referente a algumas décadas anteriores, é impossível saber qual a data exacta em que tal pratica terá sido iniciada.
Sabemos também que o Soito foi durante alguns séculos, a única aldeia da região a ter, implantada e a funcionar, uma Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, pois Sortelha, Alfaiates, Vilar Maior, Vila do Touro, Alverca da Beira, Linhares e Melo, foram vilas ou sedes de concelho.
É de realçar ainda o facto de a Misericórdia ser em 1846 já possuidora de um Património razoável, visto ter recebido nesse ano, rendas de centeio, (cento e catorze alqueires) de castanheiros e de palheiros num total de 37.490 reis, como se refere acima.
Não se adquire um património assim valioso de um dia para o outro, e se beneméritos tão importantes como Baltazar da Costa e sua esposa Dona Leonor, falecidos, ele em finais do século XVII e ela na primeira metade do século XVIII, se dignavam legar-lhe os seus avultados bens, é porque a SCMS estava já bem assente, enraizada, considerada e respeitada, tanto a nível local como regional e era bem mais participada do que hoje tendo em atenção que o Provedor, mas principalmente o Tesoureiro, eram eleitos todos os anos e não faltava quem assumisse essas funções que só extraordinariamente podiam ser ocupadas dois anos consecutivos pelo mesmo irmão.
As Misericórdias na Sociedade de hoje

As Misericórdias na Sociedade de hoje
As Misericórdias foram criadas para atender ás necessidades dos mais desfavorecidos: pobres, doentes, presos, marginalizados e outros de quem o Estado se alheava.
Os objectivos nem sempre foram conseguidos e por vezes o bem espiritual dos Irmãos sobrepunha-se ás suas reais necessidades físicas que eram remetidas a segundo plano.
Apesar de tudo, têm vindo, desde há mais de cinco séculos, a prestar inestimáveis serviços sociais ás comunidades locais onde se inserem através de cuidados a crianças, doentes e idosos, afinal aos mais necessitados e que incapacitados de por si mesmos se cuidarem no aspecto de higiene, alimentação ou movimento, nelas encontram quem lhes preste esses cuidados mínimos.
Através dos Lares de que dispõem um pouco por todo o país, praticam um serviço que é da responsabilidade do Estado e, se este comparticipa com determinada importância por utente, não é por caridade que o faz, mas sim porque os custos são substancialmente inferiores aos que gasta com as suas próprias Instituições congéneres, onde os Gestores, ou Administradores ganham milhares de euros, ao contrário dos administradores dos Lares que são voluntários e nada auferem pelo seu trabalho.
Devido à indisponibilidade ou impossibilidade dos filhos em cuidar dos seus pais já dependentes, como o fizeram os seus ascendentes durante séculos ou mesmo milénios, ou porque a vida comunitária deu lugar ao individualismo onde cada um vive a sua própria vida e também porque o trabalho de alguns filhos ausentes não permite que assistam aos seus pais, os Lares são a alternativa encontrada e tentam do melhor modo possível preencher o vazio familiar com que a sociedade actual se confronta, o que nem sempre é fácil de conseguir.
Para além dos Lares, as Creches e Jardins Infantis são outras das valências que as Misericórdias colocam ao serviço das mães que trabalham, substituindo-as nas horas da sua impossibilidade, evitando que essas mesmas crianças vagueiem sem rumo por espaços desconhecidos e perigosos.
A Misericódia do Soito do contexto distrital

A Misericórdia do Soito no contexto distrital
Embora não saibamos a data exacta em foi criada, sabemos a importância que teve, e continua a ter, nesse conjunto de Misericórdias.
Sabemos ainda que o Soito foi uma das poucas aldeias que tiveram o privilégio de ver instituída esta Irmandade.
A Santa Casa da Misericórdia do Soito não se limitou a simples Irmandade e embora a sua importância tenha sido ignorada por alguns historiadores, a verdade é que não era das de menor valia e isso prova-se através das contas, dos rendimentos e dos capitais próprios, que em certas épocas foram superiores aos de algumas recordadas nos livros específicos.
Costa Goodolphim em As Misericórdias (editado em 1897) ignora a SCMS, talvez por desconhecimento, informação errada, ou convicção de que uma aldeia não teria capacidade para criar essa Instituição.
Fernando da Silva Correia em Origens e Formação das Misericórdias Portuguesas editado em 1944, refere que a Misericórdia do Soito seria de fundação posterior a 1897, certamente baseado no anterior trabalho de Goodolphim que a ignorava e certamente sem se ter deslocado ao Soito para verificar ou confirmar a sua existência, pois nessa data (1944) a SCMS tinha uma actividade regular: tinha, segundo a relação de cobrança existente, 44 arrendatários que pagavam cerca de 84 alqueires de centeio, (apenas cinco não pagaram) recebia de juros e por trimestre a quantia de 41$01 (conforme o certificado nº 873 de renda perpétua) comparticipava nas despesas de livros para as crianças mais pobres e era Provedor José Martins Garcia, Tesoureiro João Maria Carrilho e Secretário José Pereira Morgado.
A verdade histórica, por vezes, é silenciada ou mantida presa nos livros por abrir e por não ser divulgada nunca chegará ao conhecimento público.
Apesar de Goodolphim só referir, no seu estudo, as Misericórdias de Seia, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Linhares, Melo, Pinhel, Sabugal, Trancoso e Alfaiates não significa a inexistência da do Soito que na época em que o autor escreveu tinha um rendimento superior a outras nele referidas.
A SCMS tinha em 1886 um rendimento de 197.920 reis, valor superior ao verificado nas de Melo, Gouveia e Linhares e semelhante ao obtido pela do Sabugal que, segundo o mesmo estudioso se cifrou em 204.000 reis.
Ainda num contexto mais alargado, podemos afirmar que as Misericórdias de Mogadouro com 130.000 reis, Vimioso com 150.000, Oleiros com 140.000, ou Góis com 140.000, teriam menores rendimentos e são referidas apenas porque sedeadas em sedes de concelho.
Quanto aos capitais próprios, também não é de diminuir a valia da SCMS que no último quartel do século XIX atingiu o valor de 3.100.000 de reis (uma pequena fortuna) depositados na Junta de Crédito Publico e que rendiam (ao juro de 3%) a importância de 79.000 reis (1891)
À do Sabugal, Goodolphim atribui 3.400.000 reis, a Seia 3.750.000 e a Trancoso 1.000.000 de reis.
Esses fundos de investimento (títulos de divida publica) atrás referidos, ainda existiam em 1914 conforme se lê no artigo 52 do Compromisso aprovado em 12 de Julho do mesmo ano, mas devido à depreciação da moeda e porque nunca foram levantados, possivelmente teriam revertido a favor do Estado tal como aconteceu a milhares de outros pertencentes a Instituições publicas e privadas deste país que pouparam para que
A S:C.M.S.

A Santa Casa da Misericórdia do Soito e os novos tempos...
A partir da década de sessenta do século passado, as funções administrativas da Misericórdia entraram em declínio e as reuniões da Mesa demasiado espaçadas; um ano, ou por vezes um espaço ainda mais dilatado, não correspondiam ás exigências constantes nos Estatutos, nem ao bom funcionamento da Instituição.
Não há, efectivamente, documentação referente ao espaço que medeia entre 1971 e 1979, altura em que o Sr. Padre João Domingos perante a ameaça de extinção da Misericórdia ou da eminente absorção por outra qualquer Misericórdia, face ao Decreto 618/75 que previa a nacionalização da Misericórdias com a possível integração nos hospitais concelhios, se viu obrigado a convidar algumas pessoas desta terra capazes de lhe dar novo alento e vigor.
Porque a obra herdada, não podia ser simplesmente ignorada, foi criada uma Comissão para dar nova vida à Misericórdia e para que os vindouros não esqueçam esse grupo de Soitenses, aqui deixamos os seus nomes por ordem alfabética:
Alberto Gomes de Carvalho
Amadeu Rito Alves
João Correia Cruz
João dos Santos Oliveira
João Manso Tolda
João Maria de Marcos Gandaio
João Maria Gomes
João Martins Carrilho
José Aires Carvalho Meirinho
José Manuel Alves Gomes
José Arnaldo Lousa Nicolau
José Augusto da Teresa Dias
José Augusto Martins Nicolau
José Martins da Teresa
José Martins Gaião
Manuel de Oliveira Russo
Maximino da Josefa Russo
A partir desta Comissão foram eleitos os corpos gerentes que iriam gerir a Santa Casa, e que movidos pelo amor á terra e ás suas Instituições, iniciaram uma série de contactos com vista a obter apoios para a construção de um edifício onde pudessem instalar os nossos idosos e prestar-lhe as condições que os filhos emigrados estavam impossibilitados de prestar condignamente pelas condicionantes próprias da distancia a que se encontravam em busca de um futuro melhor para si e para os seus filhos.
Composição da Mesa da Misericórdia
Do acto eleitoral, que se realizou no dia 30 de Dezembro de 1979 foram eleitos os dirigentes para os vários órgãos, como a seguir referimos:
Provedor João dos Santos Oliveira
Secretário Luís Carlos Lousa Nicolau
Pró Secretário Maximino da Josefa Russo
Tesoureiro Amadeu Rito Alves
Vogais João Manso Tolda
José Aires Carvalho Meirinho
António Manuel Soares Garcia da Fonseca
Mesários João Maria de Marcos Gandaio
José Augusto Tereza Dias
Manuel Joaquim Fogeiro Rito
João Martins Carrilho
José Alfredo Inês Manso.
De entre os elementos da Mesa é de salientar o esforço do Provedor Sr. João dos Santos Oliveira, a quem podemos chamar de o revitalizador da Santa Casa e “o Pai do Lar”, pelo seu empenho na busca de contribuições oficiais que viabilizassem o projecto e daquele a quem podemos apelidar de seu braço direito o Sr. Luís Carlos Lousa Nicolau que foi incansável mais do que compreendido e reconhecido pelo seu trabalho, o certo é que cientes de que o apoio não faltaria, lançaram mãos á obra e eis que ela nasceu.
A todos o nosso reconhecimento.
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