“O facto de os actos que realizo perdurarem quando deixo de viver, significa que de algum modo continuo a existir”
“Max Scheler”
D. Leonor e Baltazar da Costa Pacheco: Este casal que viveu na segunda metade do século XVII, princípios do século XVIII, não teve filhos e doou todos os seus bens à Misericórdia do Soito.
Ela, do Soito, filha de Diogo Martins de Amaral (O capitão “Tolda”) e de sua mulher Dona Maria Martins, foi baptizada em 27 de Julho de 1656 e ele, também capitão de cavalaria, “filho de António da Costa Pacheco e de Silia? Craveira, naturais da Vila de Linhares, Bispado de Coimbra”
O casamento foi celebrado em 2 de Agosto de 1680 pelo padre Domingos de Faria, o mesmo que celebrara o seu baptismo mas que nesta data paroquiava a Nave tendo presidido à cerimónia sob licença do cura Domingos Manso.
Tinha D. Leonor 24 anos e “foram testemunhas; António Vaz, Fº. Luís, Domingos Vaz e António Martins, todos deste lugar do Souto”
Referindo-se ao Capitão Tolda, diz o Reytor António Carvalho Baptista nas Memórias Paroquiais de Alfaiates datadas de 1758: Premiou-lhe Sua Majestade os serviços com dar o Abito de Christo e cem mil reis de tença a sua filha dona Leonor, que cazou com Balthazar da Costa Pacheco, dos Costa de Linhares, Capitão de cavalos nesta guerra paçada e Dona Leonor morreo muito velha há poucos annos.
Segundo a crença popular, divulgada entre os mais velhos, Baltazar era Judeu, porém, se atendermos ás inúmeras vezes em que foi padrinho de baptismo, essa tese é difícil de aceitar. (seria Cristão novo?)
O primeiro registo em que aparece como padrinho data de 1686 e o último de 1704.
Há outras histórias, fruto ou não do imaginário popular, que se contam a respeito deste casal, por exemplo: conta-se que ele tinha uma amiga que vivia então numa pequena casa mais ou menos onde hoje existe o número 38 ou 40 da Rua das Flores e que D. Leonor sabendo dos factos e conhecedora da miséria da amante do marido e das carências por que passava, lhe terá mandado entregar lençóis e cobertores novos para a cama, não querendo que o marido se deitasse em cama suja ou velha, este, sabedor da acção da mulher e vencido pela sua bondade não mais voltou aquela casa.
Dizem também que Dona Leonor foi sepultada, a seu pedido, na Igreja Matriz, na coxia, junto ao altar, para que todos lhe passassem por cima.
D. Leonor e sua mãe foram as únicas mulheres do Soito, à época e até tempos bem recentes, a ter direito ao D. que antecede o nome, distinção que não encontramos em qualquer outro registo paroquial e que só era atribuído a pessoas da nobreza e da boa sociedade.
Em reconhecimento, pela doação dos seus bens, a Misericórdia estatuiu nos Compromissos de 1858, 1868 e 1914 “mandar celebrar anualmente cinquenta missas por alma de Baltazar da Costa e sua esposa dona Leonor, pela doação que fizeram de seus bens à Misericórdia.”
A última prova documental de que tal aconteceu, data de Dezembro de 1936 e as missas foram celebradas pelo Padre Manuel Joaquim Carvalho Dias, numa sucessão que se prolongou por mais de 270 anos, já que Baltazar da Costa já havia falecido antes de 1736.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
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