segunda-feira, 15 de março de 2010

O INSTITUIDOR

Miguel Contreiras, Frade trinitário espanhol, nasceu em 8 de Maio de 1431 e cedo mostrou grande compaixão por todos os necessitados. Veio para Portugal em 1481 e foi o ardor da sua eloquência que chamou a atenção da Rainha Dona Leonor.
Esta, empenhada que estava na reforma da assistência, recrutou o frade para a tarefa de que resultou a criação da primeira Irmandade da Misericórdia em 15 de Agosto de 1498 a ficar instalada numa das capelas da Sé Catedral de Lisboa chamada capela da terra solta.
O frade que se tornou o primeiro Provedor da Irmandade, não viveu muitos mais anos para poder contemplar a obra pois morre a 29 de Janeiro de 1505 e foi sepultado em campa rasa no convento da sua ordem em Lisboa, na capela-mor da Igreja da Trindade, que o terramoto de 1755 destruiu. Mais tarde, (1835) a Câmara Municipal de Lisboa mandou demolir os restos do edifício para abrir a Rua Nova da Trindade, apagando definitivamente os vestígios do local onde Contreiras repousava o sono eterno.
É interessante saber que em memória de Contreiras, o seu retracto passou a figurar na bandeira da Instituição com a sigla F.M.I. ( Frei Miguel o Instituidor), porém ao fim de apenas 60 anos, o seu nome e retracto já não figuravam na bandeira, nem tão pouco em Lisboa se encontrava uma única bandeira original, estava extinta a memória do Instituidor, porquê?
Seria por ser Espanhol e já então os partidários do racismo e da xenofobia faziam valer as suas posições e impunham os seus propósitos? Cada um de nós poderá responder hoje a essa questão, passado que é mais de meio milénio
Para reabilitar a sua memória foi necessário que os superiores da sua ordem, “pugnando pela verdade e alto feito” do seu Frade, apresentassem em 25 de Agosto de 1574, um pedido de justificação junto da Mesa da Misericórdia e do Arcebispo de Lisboa, o que mereceu da Mesa uma resposta positiva num despacho de 28 de Fevereiro de 1575 e que conduziu à verificação dos factos em 15 de Março do mesmo ano através do exame do compromisso que está encadernado em tábuas de pau, coberto de veludo azul com brochas de prata, verificando-se que os sinais eram conformes.
Requereu novamente a Ordem da Trindade à Mesa da Misericórdia cujo Provedor mandou reunir a Irmandade elegendo doze irmãos a fim de deliberar o que fosse de justiça; entre os irmãos eleitos contava-se D. Sancho de Noronha, D. Duarte da Costa, D. Alvaro de Melo, Afonso de Albuquerque, D.António de Vasconcelos e outros que aprovaram a justificação em 12 de Setembro de 1575, porém não sendo determinado o modo de pintar as bandeiras foi elaborado novo acórdão datado de 15 de Setembro de 1576 que apenas seria promulgado por alvará de 26 de Abril de 1627 onde se expressa: “Hei por bem que no pintar das bandeiras de todas as casas da Santa Misericórdia d,estes reinos se conformem com as d,esta cidade de Lisboa, fazendo-se e pintando-se assim, e da maneira que n,ella se usa, com a imagem do dito religioso, e letras de F.M.I. como dito é, e que as bandeiras que já estiverem feitas e pintadas se emendem, e se pintem nelas a figura do dito religioso com as ditas letras. Pelo que mando a todos os desembargadores, corregedores e ouvidores das câmaras deste reino, e mais juízes e justiças, oficiais e pessoas a quem este alvará ou copia dele em publica forma for mostrado e o conhecimento dele pertencer, que assim o cumpram, guardem e façam cumprir, etc.”
Através de alvará de Filipe III em 26 de Abril de 1627 este procedimento foi extensivo a todo o reino e conquistas.

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